Maria Rita Caminhos Culturais
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Van Gogh

Um segundo amor à primeira vista – 1 – Van Gogh

Na década de 80 eu fui pela primeira vez para a Europa e comecei por Amsterdã. Estava tão ávida por conhecer que logo após ter chegado, deixei as malas no hotel, e saí para dar uma volta.

Duas quadras depois, caminhando, aleatoriamente, fui surpreendida com o Museu de Vicent Van Gogh. De repente estar na frente de um Van Gogh autentico, era impensável naquela época. Eu senti o coração disparando. A emoção e a sensação são inesquecíveis.

O Museu Vicent Van Gogh contém a maior coleção de pinturas de Van Gogh no mundo. Tem 200 pinturas, 500 desenhos e centenas cartas.

As pinturas estão organizadas cronologicamente o que permite acompanhar sua vida e sua evolução quadro a quadro.

Este foi um amor para toda a vida, sem possibilidades de rompimento Depois do primeiro encontro, fui revê-lo em Arles, a cidade para qual ele se mudou em 1888, depois ainda em Auvers Sur Oise e os encontros foram se multiplicando solidificando a nossa relação.

Vincent van Gogh foi um pintor de excessos:
muito expressivo, muito atormentado e muito inquieto
.”

Vincent Willem Van Gogh é artista holandês nascido 1853, considerado um dos artistas precursores do modernismo, morou em vários lugares, em 4 países e desenvolveu várias atividades, antes de começar a pintar, embora desenhasse desde criança. Mesmo assim pintou mais de 800 telas e fez mais 1000 desenho.

Decidiu tornar-se pintor apenas em 1880 quando mudou-se para Paris acolhido por seu irmão Theo. Depois foi para Arles, em busca da luz natural e finalmente para Auvers sur Oise onde morreu.

“Van Gogh” com a saúde mental debilitada pôs fim a própria vida em julho de 1890 aos 37 anos. O suicídio é discutível havendo teorias de que foi assassinado.

 

 

Um segundo amor à primeira vista – 2 – Van Gogh – Arles

Arles está localizada na região da Provence, sul da França, próximo do Mediterrâneo e das cidades de Avignon, Aix em Provence e Marseille, tem uma história longa que data do século VI AC. A cidade está às margens do Ródano, num cenário  cinematográfico, rodeada por campos de lavandas e girassóis, e guarda ruínas e anfiteatros romanos do século I e II.

Van Gogh foi para Arles porque  havia um movimento entre os artistas de pintar fora de seus atelieres, buscando a luz natural. Ele escolheu Arles por sua luminosidade e tentou fazer uma “colônia de artistas”, e escreveu a diversos, mas só Paul Gauguin aceitou. A convivência entre os dois não era nada fácil e geraram muitos conflitos e Gauguin acabou indo embora.

É um prazer visitar Arles, assim como toda a região da Provence, mas lá tem um detalhe a mais, Van Gogh.
Perambular por suas ruas e vielas é um encantamento, principalmente porque vamos encontrando os lugares que Van Gogh pintou, tais como O L’Espace Van Gogh que foi o hospital em que ficou internado. É viver a história.

No Café na Place du Forum (atual Café Van Gogh) é como se tivéssemos entrando em um quadro. Ele está lá, tal e qual e parece irreal. Coisa de filme.

Tem também Pont Van Gogh (Pont de Langlois) e Fundação Vicent Van Gogh. Pintou também o que não está mais lá, casa amarela e o quarto da casa amarela (retratada em suas telas e demolida depois de um bombardeio em 1944)

Ele ficou somente 15 meses em Arles, mas foi o período muito produtivo. Ele produziu cerca de 300 pinturas e desenhos além de várias cartas que escreveu para o irmão Theo e amigos. Atribuem a este período suas obras primas.

Foi em Arles, em 1888,  que aconteceu um dos episódios mais famosos da história da arte: Van Gogh cortou a própria orelha. A motivação é discutível mas é atribuída a  desistência de Paul Gauguin continuar em Arles.

Em maio de 1890, partiu para Auvers perto de Paris e perto do irmão Theo.

Um segundo amor à primeira vista – 3 – Van Gogh – Auvers Sur Oise

“Um girassol se apropriou de Deus:
foi em Van Gogh.”
Manoel de Barros

Eu tinha como referência uma foto, que havia visto em um jornal, de uma personalidade visitando os túmulos de Van Gogh e de Theo, seu irmão, em Auvers sur Oise, que me intrigou.

Auvers fica a 29 km de Paris e pode-se ir de trem. Eu fui e quando saí da gare, na minha frente, havia uma jardineira com os girassóis floridos e era como se ele estivesse ali me esperando. Que delícia de recepção.

Toda a cidade tem placas com a reprodução da obra na frente do prédio pintado. São 29 e a cidade é muito pequena, então sua presença é maciça.

O albergue Ravoux  onde Van Gogh se hospedou permanece intacto e pode se assistir um documentário sobre sua permanência lá. O restaurante do albergue está preservado e a mesa que ele usava está no mesmo lugar mantendo a atmosfera.

Estava completamente envolvida e fui visitar a igreja que é uma das pinturas de que eu gosto muito e também é o caminho do cemitério.

O cemitério é pequeno, mas mesmo assim me atrapalhei, e tive dificuldade de achar o túmulo deles. São simples, lado a lado como caminharam pela vida.

Na saída, olhando para frente, tem o campo de trigo onde ele pintava e no meio estava a placa reproduzindo a pintura com algumas pessoas a volta. Tive a nítida impressão de que ele estava ali pintando. Olhei para o céu procurando alguns corvos, que não estavam lá. Fiquei algum tempo vivendo esta emoção.

Van Gogh passou os seus últimos 70 dias ali, produziu 72 pinturas, 33 desenhos e uma gravura, entre elas a famosa pintura do doutor Gachet.

É uma visita memorável e que recomendo. Gostei tanto que voltei a Paris, aí com o meu filho, e coloquei como condição irmos a Auvers sur Oise. Cometi o mais terrível erro, principalmente para quem viaja como eu, erro de principiante. Início de fevereiro, inverno, frio, chuva e neve. Fomos. Tudo fechado. A culpa é da vontade de reviver e compartilhar, mas de qualquer forma imperdoável.

Vou voltar.

 

UUm segundo amor à primeira vista – 4 – Van Gogh – experiências sensoriais

 

Van Gogh Alive

Exposição imersiva ou multissensorial de Van Gogh, em Sevilha.

É pura emoção. É uma delícia participar. É sensorial. É ser envolvida pelas obras e perceber que elas ganharam vida. 

Há muitas proposições de vivências imersivas e a arte digital é um destes vieses. Através de tecnologia são projetadas imagens que conectadas a sons, te transportam para outra realidade.

Tive oportunidade de participar/vivenciar a exposição Van Gogh Alive, em Sevilha e posso afirmar que é um transe.

Com amor, Van Gogh

é um dos mais deliciosos filmes que já assisti.

É um filme com a técnica da animação a partir de 400 pinturas de Van Gogh e consegue reproduzir a textura e a beleza das pinceladas dele.

Revisita a vida, ambienta os locais em que viveu e as pessoas que conheceu. É de uma beleza, de um envolvimento indescritível.

Assisti ao filme em duas oportunidades. Uma a bordo e outra no cinema em uma sessão comentada por psiquiatras e psicólogos. Foi muito interessante pois além de várias abordagens de diferentes facetas de seu temperamento entendi que talvez ele fosse bipolar e na época não sabiam o que era, o que explica muito.

Quando uma obra ou obras, seja de que natureza for, se tornam muito conhecidas, parece que banaliza. Mas eu, sem nenhum medo ou pudor, digo que amo Van Gogh. Sua obra para mim passa veracidade, autenticidade e inquietação. O vigor das pinceladas me parece que foram feitas com energia vital. São fortes, intensas e decisivas.

Ele sabe manter este amor e sempre me surpreendendo.